segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Presidente da Câmara Municipal de Tondela falta à verdade na questão da concessão da água


Na sequência da entrevista do presidente da Câmara Municipal de Tondela (CMT) publicada no Jornal do Centro em 2 de Janeiro, e atendendo a que na mesma são feitas afirmações que, por um lado, não correspondem à verdade e, por outro, não são toda a verdade, o MUAP, Movimento de Utentes da Águas do Planalto vem esclarecer o seguinte:

Refere o presidente da CMT que para fazer o resgate da concessão da água são necessários 40 milhões de euros devido às cláusulas existentes no contrato. Estamos perante o que se chama uma meia verdade, uma vez que este valor, que é apenas uma estimativa, resulta da desastrosa adenda assinada em 2007 entre a Águas do Planalto e a Associação de Municípios do Planalto Beirão (AMRPB) e não do contrato de concessão assinado em 1997. Sem esta adenda o contrato de concessão da Águas de Planalto já tinha terminado em 2012, e não haveria por isso qualquer custo na sua reversão para o domínio público. Fica claro que o valor do resgate não resulta do contrato de concessão mas da adenda que posteriormente foi feita a esse contrato, adenda essa que não teve a aprovação do Tribunal de Contas, do Instituto Regulador da Água e Resíduos, das 5 Câmaras Municipais nem das respetivas Assembleias Municipais.

Refere o presidente da CMT que “Em 2007, a Águas do Planalto era uma empresa pública e era entendimento dos juristas que este tipo de contratos, tipo PPP-Parecerias Público Privadas não necessitava do visto do Tribunal de Contas”. Trata-se de uma afirmação que não corresponde à verdade e que se desmente a ela própria. Não é preciso ser muito inteligente para perceber que é impossível fazer uma PPP entre duas entidades públicas. Uma PPP, Pareceria Público Privada, implica sempre uma entidade pública e outra privada. Em 2007 a Águas do Planalto era uma empresa de direito privada, com capital social de 2.675.000€, detida a 100% pela Aquapor. Por sua vez a Aquapor era, nessa data, detida pela Águas de Portugal SGPS, SA. O facto da Águas de Portugal SGPS, SA ser uma empresa de capitais públicos, não torna, por isso, as suas participadas em empresas públicas, nem os seus trabalhadores são funcionários públicos. A autoridade tributária distingue o primeiro dígito do número de identificação fiscal em função do tipo de empresa. Os números começados por 5 são de Pessoa Coletiva e os começados por 6 são de Pessoa Coletiva Pública. O NIF da Águas do Planalto existente na adenda é 503884189. A Águas de Planalto, por ser uma pessoa coletiva de direito privado, e não sujeita por isso às regras da contratação e gestão pública, poderia então obter um financiamento junto da banca, financiamento esse que a AMRPB, essa sim uma associação pública, estava com dificuldades em o obter. Foram estes factos que se usaram como justificação para a realização da adenda assinada em 2007.

Refere o presidente da CMT que “Se há quem assim não entenda, e considere o contrato nulo, compete aos tribunais pronunciarem-se. É disso que estamos à espera. Que se pronunciem o Tribunal de Contas e o Tribunal Administrativo e Fiscal”. Importa aqui esclarecer que foi o MUAP que desencadeou as ações judiciais junto destes tribunais tendo como objetivo a declaração de nulidade da adenda ao contrato de concessão assinada em 2007, e desta forma permitir a reversão da concessão da Água para o domínio público sem os pagamentos das indemnizações previstas nessa mesma adenda. O MUAP nunca sugeriu que se rasgasse o contrato. O MUAP não entende a razão porque não foram as próprias câmaras municipais, na defesa dos interesses dos seus munícipes, a solicitar a estes tribunais a declaração dessa nulidade. Mas mais grave do que isso, o MUAP não entende o aparente apoio da maioria das 5 câmaras municipais, nomeadamente a câmara de Tondela, de Tábua e de Mortágua, na manutenção da validade da adenda com argumentos que a adenda foi feita dentro da lei.

Refere o presidente da CMT que relativamente à AMRPB “Nunca se esconderam documentos… Quando é solicitado o acesso a outros documentos contabilísticos como cheques… a AMRPB pediu à CADA que se pronunciasse”. Uma vez mais o presidente da CMT não fala verdade e os documentos existentes que o MUAP possui assim o provam. A resposta dada pela AMRPB, em 29 de Julho de 2014, a negar o acesso aos documentos solicitados pelo MUAP continha as seguintes justificações:
·         Enquanto o assunto estiver ao cuidado dos tribunais, no domínio das matérias referidas, só a estes devem ser prestadas informações.
·         A densidade, a exorbitância, a confidencialidade, a excessividade e a repetibilidade dos documentos que nos solicitam não nos parecem adequados à realização do dever de informação que porventura sobre nós existe.

Trata-se pois de uma forma clara e evidente que a AMRPB usou para procurar esconder documentos ao MUAP, que tem toda a legitimidade para os consultar, legitimidade essa que lhe foi confirmada na resposta que a CADA deu ao recurso que o MUAP interpôs contra a decisão a AMRPB de nos negar o acesso a esses documentos. Mais se refere que o MUAP não recebeu da AMRPB a cópia de qualquer cheque.
Relativamente aos dados recebidos pelo MUAP da AMRPB, e porque os mesmos revelaram situações que consideramos anómalas na gestão de dinheiros públicos, em breve faremos uma nova participação judicial.

O MUAP continua assim a sua luta que tem como objetivo último a diminuição substancial dos preços que pagamos pela água que consumimos, e pela defesa da água como um bem público que não pode estar ao serviço de interesses privados, lamentando a falta de apoio que temos tido pela maioria dos autarcas eleitos nas câmaras e assembleias municipais. 


ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE TONDELA 40 MILHÕES DE EUROS PARA RASGAR CONTRATO COM A ÁGUAS DO PLANALTO ( excerto sobre a Águas do Planalto)
Jornal do Centro, 2 de janeiro 2015
Está a referir-se ao MUAP - Movimento de Utentes da Águas do Planalto que luta contra o preço elevado da água também no concelho de Tondela?

Esse é um movimento legítimo que tem os seus objetivos e tem atuado de uma forma independente. Sabem que os autarcas têm acompanhado o processo e que não se pode rasgar um contrato com reflexos fi­nanceiros catastró­ficos por volta dos 40 milhões de euros devido a cláusulas existentes no contrato.

Mas este Governo já fez a revisão de vários contratos de Parcerias Público Privadas…

 É possível rever o contrato se houver ganhos excessivos, de acordo com a fórmula de cálculo acordada para uma das partes. Esta é a questão de fundo. O atual conselho de administração da Associação de Municípios pediu uma auditoria externa credível. No caso foi à consultora Deloitt, para avaliar se existem ou não os tais ganhos excessivos por parte da concessionária que possibilite o pedido de uma revisão do contrato. Em breve essa auditoria será divulgada mas não me parece que exista para já uma margem de manobra para se pedir a renegociação do contrato.

A empresa Águas do Planalto e as tarifas cobradas é tudo muito opaco...

 Não me parece. Se tivermos em conta apenas o contrato para distribuição da água a tarifa anda à volta da média nacional, cerca de 50 cêntimos o metro cúbico. O tão falado preço elevado resulta de investimentos feitos na rede de abastecimento, numa altura em que não havia ­financiamento, e que se não fossem feitos com este modelo, que se reflete na fatura da água do consumidor, não teriam sido feitos. Na altura, em 2007, a Águas do Planalto era uma empresa pública e era entendimento dos juristas que este tipo de contratos, tipo PPP - Parcerias Público Privadas, não necessitavam do visto do Tribunal de Contas. Se há quem assim não entenda, e considere o contrato nulo, compete aos tribunais pronunciarem-se. É disso que estamos à espera. Que se pronunciem o Tribunal de Contas e o Tribunal Administrativo e Fiscal. Esperamos que a decisão seja célere para que isto não se arraste no tempo.

Mas numa empresa que gere a coisa pública há pouca transparência quando é acusada de esconder documentos que deviam ser públicos....

 Nunca se esconderam documentos. Tudo foi disponibilizado aos Tribunais Administrativos e Fiscais de Viseu e Coimbra. Quando é solicitado o acesso a outros documentos contabilísticos como cheques, e porque era uma situação nova, a Associação de Municípios do Planalto Beirão pediu à CADA – Comissão de Acesso a Documentos Administrativos que se pronunciasse. Assim que a CADA se pronunciou favoravelmente foi facultado o acesso aos documentos.

Na altura da campanha para as eleições autárquicas de 2013, perante este cenário da água mais cara do país, defendia a criação de escalões sociais para familiar carenciadas. Mais de um ano depois isso ainda não existe...
Estamos a trabalhar nesse sentido. É preciso um regulamento e um aditamento ao contrato assinado em 2007. Por isso é necessário também que esta metodologia, das tarifas sociais, estenda aos quatro municípios que têm a rede pública concessionada às Águas do Planalto.






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